É necessário incluir indicadores funcionais na biomonitorização de rios e ribeiros

Por Verónica Ferreira e colaboradores

 
©Andreia Ferreira Rios e ribeiros fornecem importantes serviços à sociedade (p. ex., água potável, alimento) e portanto preservar a sua saúde, ou a sua integridade ecológica, deve ser um objectivo societal. A integridade ecológica é definida pela integridade estrutural (o bom estado das comunidades de plantas aquáticas, peixes, invertebrados, etc) e pela integridade funcional (o bom estado dos processos que controlam os fluxos de energia e de matéria no ecossistema, como a fotossíntese, a decomposição de matéria orgânica, etc). A biomonitorização de rios e ribeiros, no entanto, raramente considera o funcionamento do ecossistema, apesar das comunidades e suas funções sem sempre responderem de modo equivalente às alterações ambientais, podendo haver alterações na função sem que haja alterações notórias nas comunidades. Entre os potenciais indicadores da integridade funcional de rios e ribeiros, a decomposição de matéria orgânica e o metabolismo do ecossistema (p. ex., produção e consumo de oxigénio através da fotossíntese e da respiração) são bons candidatos porque respondem a alterações ambientais de forma previsível e são relativamente fáceis de determinar. Neste trabalho realizámos uma revisão dos estudos que usaram a decomposição de matéria orgânica e o metabolismo do ecossistema na biomonitorização de rios e ribeiros desde o ano 2000, e mostramos que na maioria dos casos (em aproximadamente 75% dos estudos) estas duas funções do ecossistema são eficazes na detecção de alterações ambientais como aquelas que resultam da actividade agrícola, silvicultura ou urbanização. Curiosamente, ambas as funções foram sensíveis às práticas de restauro em todos os estudos examinados, sugerindo que podem ser indicadores eficazes para detectar se o restauro de um dado ecossistema é eficiente. Apesar de na Europa a biomonitorização de rios e ribeiros se basear apenas em indicadores estruturais (p. ex., comunidades aquáticas, qualidade da água), os indicadores funcionais estão já a ser integrados na biomonitorização de rios e ribeiros na Nova Zelândia e na Austrália. Uma vez que os indicadores estruturais podem dar uma imagem incompleta, e até errónea, do estado ecológico dos rios e ribeiros, a incorporação de indicadores funcionais é um passo essencial para melhorar a gestão e conservação destes ecossistemas valiosos.

Leia o texto completo aqui:

Ferreira V., Elosegi A., Tiegs S., von Schiller D. & Young R. 2020. Organic-matter decomposition and ecosystem metabolism as tools to assess the functional integrity of streams and rivers – a systematic review. Water 12: 3523