Diz-me com quem interages e dir-te-ei se sobrevives



Por Virginia Dominguez-García, Ignasi Bartomeus e colaboradores
 

 
Um dos desafios da ecologia é compreender quando e como as espécies podem persistir num ecossistema. Um exemplo claro é a crescente preocupação pelas populações de polinizadores, em rápido declínio. Por um lado, há vários estudos de campo que mostram algumas correlações entre a persistência das espécies de polinizadores e as características do habitat, como a observação de que manchas de habitat maiores suportam mais espécies de forma estável. Por outro, diversas teorias ecológicas têm proposto mecanismos específicos que podem ser responsáveis por proporcionar estabilidade nos ecossistemas. Por exemplo, as redes de interacções estabelecidas pelas diferentes espécies que regulam as suas populações. No entanto, nem sempre é fácil validar estas teorias ecológicas com dados empíricos. Neste estudo pretendemos comprovar se a estrutura de interacções entre plantas e polinizadores pode prever a estabilidade das populações. Existem numerosos trabalhos teóricos que sugerem a presença desta relação mas, ¿estes modelos terão algum valor predititivo em sistemas naturais? Usando dados recolhidos durante seis anos de trabalho de campo no qual se registou tanto a estrutura da rede de interacções, como a persistência das diferentes espécies de polinizadores ao longo do tempo, comprovámos que os modelos teóricos prevêem adequadamente a persistência das espécies. Estes dados permitiu-nos validar que a estrutura da rede de interacções entre plantas e polinizadores define a sua estabilidade. De facto, em manchas de habitat maiores, as espécies formam estruturas mais aninhadas (ou seja, uma estrutura de interacções em que as espécies especialistas interagem apenas com as generalistas, mas as generalistas também interagem entre si), o que lhes confere maior estabilidade face às perturbações, conciliando observações correlacionais com mecanismos teóricos. A compreensão e validação destes mecanismos é o primeiro passo para prever o futuro dos polinizadores e avançar com medidas de conservação.

Leia o texto completo aqui:

Domínguez-Garcia, V., Molina, F.P., Godoy, O. et al. Interaction network structure explains species’ temporal persistence in empirical plant–pollinator communities. Nat Ecol Evol 8, 423–429 (2024). https://doi.org/10.1038/s41559-023-02314-3

Texto escrito por Ignasi Bartomeus e editado por Clara Ruiz e Félix Picazo